
Dois golos de César Peixoto na direcção correcta - o terceiro traiu Vítor Baía, mas não anulou os efeitos positivos dos outros - embalaram o FC Porto para uma exibição quase perfeita. Algumas hesitações defensivas ainda precisam de ser corrigidas, apesar de terem permitido tirar a prova dos nove quanto à serenidade deste FC Porto nos momentos críticos
Há uma ilusão de equilíbrio que resulta dos números finais e que se esfuma rapidamente no conteúdo do jogo. FC Porto e Naval terminaram separados por apenas um golo, mas a distância cavada entre a produção efectiva de ambos é bem mais significativa. Espreita-se as jogadas de perigo e percebe-se que aos portistas cabe uma generosa fatia de noventa e cinco por cento desses lances, o que traduz uma inquestionável supremacia. Quase sem oposição. O quase aqui é importante porque há dois golos da Naval para contar e a eficácia é também credora de elogios, ainda que possa ter resultado de deslizes que Adriaanse terá de corrigir. O holandês queria golos e teve-os; dispensava seguramente sofrer aqueles dois, mas vai ter de alertar a defesa para a necessidade de simplificar os processos e redobrar a concentração. Adriaanse queria também, para começar, uma atitude menos passiva do que aquela que o FC Porto apresentara em casa, na estreia. Foi bem sucedido nessa parte. Os portistas abordaram o adversário pelos colarinhos e apertaram com força, confinando-o ao espaço defensivo. Insistiram o suficiente para ameaçar a asfixia total, mas essa intenção esbarrou, de início, nalguma falta de pontaria e no facto de Taborda ter esperneado bem. O guarda-redes da Naval, que até já passou pelo FC Porto, foi-se esticando, desviando os remates que o FC Porto queria que seguissem em linha recta. Sonkaya tentou; Diego insistiu; Postiga também. Sem sucesso. Adriaanse preparava já o sermão do intervalo quando a sorte mudou. César Peixoto, de cabeça, respondeu bem a um canto de Jorginho e oxigenou os pulmões portistas. Intervalo. Aproveitemos o descanso para isolar César Peixoto. Apesar do autogolo, é justo que se dispense alguns adjectivos e o melhor, antes de mais, é esquecer toda a informação que se foi acumulando nos últimos anos porque, aparentemente, este César Peixoto só manteve mesmo o nome. Transformando por Adriaanse num defesa de rendimento - até ver - aceitável, quando a adaptação parecia encerrar contornos de risco contra qualquer adversário, apresentou ontem outra faceta desconhecida: também sabe cabecear. E para provar que não foi um acidente, fê-lo duas vezes. Com isto, entra-se na segunda parte do jogo. Há esse segundo golo, tirado a papel químico, e o da resposta da Naval, que aproveitou alguma passividade defensiva dos portistas. Fogaça mostrou credenciais e prolongou o protagonismo da primeira jornada.
Exemplo de Hugo Almeida
A Naval podia e devia ter crescido, mas o FC Porto não deixou. A diferença mínima não ressuscitou fantasmas do passado e os portistas mantiveram-se personalizados. Lucho, Ibson e Diego seguravam as pontas no meio, desenrolando-as para uma frente de ataque que continuava incansável. Jorginho e Lisandro foram quebra-cabeças permanentes. Postiga não. Esforçou-se, ninguém terá coragem de o negar, mas acrescentou exactamente o quê? A entrada de Hugo Almeida, que também costuma falhar golos em doses industriais, foi ontem uma jogada decisiva de Adriaanse. O avançado controlou a veia do desperdício e aproveitou a primeira ocasião, desenhada com mestria por Quaresma e amortecida por Jorginho. Hugo Almeida não falhou e serenou a equipa, ganhando, quem sabe, o direito a aspirar a mais do que o estatuto de arma de banco. Parecia um ponto final no encontro, mas César Peixoto, na tal jogada infeliz, tratou de vitaminar os minutos finais, abrindo espaço para algumas reticências. O FC Porto voltou, então, a dar sinais de estofo para aguentar a pressão. O que, recordando um passado recente, é também uma grande novidade.
Estádio Municipal José Bento Pessoa | relvado: sofrível| espectadores: 6 000 | árbitro: Lucílio Baptista, AF Setúbal | assistentes: Luís Salgado (AF Setúbal) e Hernâni Fernandes (AF Lisboa) | 4º árbitro: Nuno Afonso
Naval 2 - FC Porto 3
GOLOS [0-1] César Peixoto 45', [0-2] César Peixoto 52', [1-2] Bruno Fogaça 55', [1-3] Hugo Almeida 83', [2-3] César Peixoto pb 86'
1 Taborda GR
7 Carlitos LD
4 Nélson Veiga DC
3 João Paulo DC
55 Bessa LE
8 Gilmar MD
16 Glauber MD 54'
18 Fajardo AE
73 Márcio Luiz MO 75'
27 Saulo AD 63'
9 Bruno Fogaça A
Manuel Cajuda
12 Sopalski GR
28 Aurélio DC
30 Solimar MD 75'
29 João Mendes MO
24 Rui Miguel MO 54'
90 Leo Guerra AV 63'
Amarelos 40' Carlitos, 61' Márcio Luiz, 73' Nélson Veiga
99 Vítor Baía GR
22 Sonkaya LD
3 Ricardo Costa DC
4 Pedro Emanuel DC
21 César Peixoto LE
6 Ibson MD
8 Lucho MD
20 Diego MO 85'
17 Jorginho AD
11 Lisandro Lopez AE 77'
10 Hélder Postiga AV 68'
Co Adriaanse
1 Helton GR
14 Pepe DC
18 Paulo Assunção MD
7 Quaresma AD 77'
27 Alan AE 85'
39 Hugo Almeida AV 68'
19 Sokota A
Amarelos 26' Pedro Emanuel
Estatística do jogo
Visitado
8 remates
0 poste
3 defendidos
2 golos
3 fora
0 pequena-área
3 grande-área
5 fora da área
25% eficácia remate/golo
24 faltas cometidas
2 cantos
6 foras-de-jogo
Visitante
18 remates
0 poste
7 defendidos
3 golos
8 fora
2 pequena-área
7 grande-área
9 fora da área
17% eficácia remate/golo
15 faltas cometidas
11 cantos
0 foras-de-jogo
Co Adriaanse
"Passamos por algumas dificuldades perto do final"
TIAGO LEMOS
No final do encontro com a Naval, Co Adriaanse estava "satisfeito" com a vitória, afirmando que a equipa "jogou melhor e mais rápido que no último encontro", considerando que a subida de rendimento se ficou a dever a uma "maior frescura dos jogadores". O treinador portista destacou o "elevado número de cantos" conquistados pelos dragões ao longo da partida, salientando que "dois deles resultaram em golo". A este propósito, falou da exibição de César Peixoto, dizendo ser "fantástico" um defesa-esquerdo marcar por duas vezes num jogo, embora lamentasse que o lateral tivesse marcado também "na baliza errada". De resto, golos foi aquilo que o FC Porto "mais desperdiçou", segundo Adriaanse, sendo Postiga um dos que mais falhou na finalização. "Postiga está a trabalhar bem e é um bom jogador, mas tenho outros jogadores no banco para a mesma posição", explicou o técnico portista, deixando no ar a ideia de que McCarthy deverá ser titular no próximo jogo. O meio-campo dos dragões também teve direito a elogios, com Adriaanse a destacar as exibições de "Lucho, Ibson e Diego". Quaresma foi outro dos nomes citados pelo treinador do FC Porto, que definiu o extremo como "um jogador de grande talento, que tem trabalhado muito". "Quaresma é um bom rapaz, merece jogar e tem um grande futuro pela frente", afirmou, "mas para isso terá de aprender a jogar para a equipa, sendo a minha função ensiná-lo".
Sobre o adversário, Co Adriaanse destacou a "boa exibição" da Naval, admitindo que, nos últimos cinco minutos, a equipa do FC Porto passou por "algumas dificuldades", numa altura em que os figueirenses "acreditavam que poderiam chegar ao empate".
Sobre a sua equipa
"Jogámos melhor e mais rápido que no último encontro. Dominamos a partida e o elevado números de cantos que conquistámos é exemplo disso. Dois deles resultaram em golo."
Sobre o adversário
"A Naval fez uma boa exibição e causou-nos algumas dificuldades nos últimos cinco minutos, quando acreditava que poderia chegar ao empate."
Sobre Postiga
"Está a trabalhar bem e é um bom jogador, mas tenho outros jogadores para a mesma posição."
Sobre Quaresma
"Tem trabalhado muito, é um jogador de grande talento e merece jogar. Tem um grande futuro pela frente, se aprender a jogar para a equipa. Para isso, estou cá eu para ensiná-lo."
5 Hélder Postiga
Outra vez no lugar de ponta-de-lança, Postiga trabalhou para ganhar espaços para os companheiros e isso merece ser reconhecido. Aos 31' e 66', este num remate à meia volta, esteve perto do golo. Saiu aos 68'.
Fonte: OJogo